segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Nascer tem hora certa, não hora marcada


Modernamente, a mulher vive um papel em que passa a ter o direito sobre si própria Atualmente a mulher busca a autonomia no campo da reprodução, e os métodos contraceptivos tornaram-se um grande aliado, pois separaram o sexo da reprodução permitindo, assim, a escolha do número de filhos.  O mundo ocidental é regido pela economia e pela racionalização do tempo, que por sua vez, influencia o nosso modo de vida. Dessa forma, o processo do próprio nascimento, culturalmente, também se modificou. Em todas as culturas, ao longo da história, as mulheres foram assistidas durante sua gestação e parto.  Porém, o poder de decisão ficava com a mulher ou sua família. Por isso, é importante ressaltar que é da responsabilidade de nós  profissionais da saúde orientarmos  a mulher no período gestacional sobre suas dúvidas e modificações corporais e prepará-la para um parto normal, desfazendo seus temores culturais. A humanização do parto em nosso país está sendo proposta como modelo pelo próprio Ministério da Saúde, resgatando o parto natural. Nessa estratégia não se deseja abolir as tecnologias alcançadas para auxiliar a mulher nesse processo, porém, não transformar rotineiramente um fenômeno natural em medicalizado ou cirúrgico. Esta filosofia deve redimensionar nossa forma de conduzir as gestantes e acolher as parturientes respeitando nelas o caminho da natureza.

O nascimento pode e deve, sempre que possível e sem criar riscos, acontecer da maneira que uma mulher deseje, tanto do ponto de vista físico quanto emocional. O ambiente deverá ter, sem dúvida, todo suporte técnico e vigilância, mas a atmosfera deverá ser segura, "familiar", calorosa, carinhosa e alegre. O nascimento é uma vivência única e pode representar a maior experiência criativa na vida de

É nossa tarefa enquanto profissionais de saúde, entender que o parto é um processo irreversível, cuja fisiologia deve ser respeitada, acompanhada com atenção e responsabilidade, compreendendo as ansiedades e expectativas de cada mulher grávida, intervindo apenas quando houverem indicativos comprovados, baseados em evidências científicas para sua aplicação. Só assim criaremos as condições para restabelecer a naturalidade do parto, sem as desnecessárias distorções que ainda são cometidas pela medicina institucionalizada e que podem levar a profundas repercussões desfavoráveis para mãe e feto. Como enfermeira obstetra e mãe, entendo que o conceito de parto humanizado, que defendo há anos, envolve obrigatoriamente o processo que se inicia desde quando a mulher sabe que está grávida, se estende por toda a gestação, atendendo com amplo respeito a fisiologia do trabalho de parto, eliminando todas as práticas rotineiras claramente prejudiciais ou ineficazes que eram adotadas no parto normal, até alcançar o momento soberano da acolhida do bebê.

Soninha Silva- Enfermeira obstetra  coren-SC 383.225